O aleitamento materno é um ato social. Presente na história há milhares de anos, evoluiu junto com a humanidade. Dentre os registros históricos, podemos citar as mães indígenas, que carregavam seus filhos junto ao corpo não apenas para protegê-los de ameaças, mas também para alimentá-los com leite materno. Na segunda metade do século XIX, nas famílias burguesas, destacavam-se as amas de leite: as escravas negras amamentavam primeiro os filhos dos patrões, pois eram tidas como produtoras de leites mais fortes.
A partir da década de 60, ocorreu, em âmbito global, uma supervalorização dos alimentos industrializados, tornando o aleitamento um ato secundário e, por consequência, houve desvalorização da mulher que amamenta, diminuição da cultura e transmissão dos conhecimentos sobre amamentação, afrouxamento do vínculo mãe-bebê e aumento da mortalidade infantil.
No Brasil, ao final da década de 70, surgem as primeiras iniciativas em prol do aleitamento materno e, durante as décadas de 80 e 90, programas mundiais de incentivo, retomam a antiga cultura, resultando, em 2001, na 54º Conferência de Saúde, em Genebra, que determinou a recomendação da Organização Mundial da Saúde, mantida, até hoje, como padrão ouro: “Aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e complementar até os 2 anos de idade”. Tomando-a como base, é possível definir algumas das indiscutíveis vantagens do aleitamento materno.
- O leite materno é o alimento mais completo, contendo todos nutrientes apropriados para o organismo do bebê;
- Possui fatores imunológicos específicos para o bebê, que não se encontram no leite de vaca e em nenhum outro leite ou fórmula láctea;
- Protege contra doenças, como diarréia, otites, pneumonias e alergias, dentre outras;
- É um alimento livre de contaminação, pois não necessita de manipulação;
- Está pronto a qualquer hora, na temperatura certa para o bebê;
- Favorece a criação do vínculo afetivo a partir do contato pelea-pele e olhos nos olhos;
- Enquanto o bebê se alimenta, a participação e apoio do pai, irmãos e familiares favorece a continuação e prolongação da amamentação;
- Amamentar pode contribuir para a diminuição do sangramento materno e volta do útero ao tamanho normal;
- O ato de amamentar diminui o risco de câncer de mama e ovários.
Embora o conhecimento destas vantagens seja bastante disseminado, e hoje existirem diversas políticas e programas que tratam da promoção, proteção, manejo e incentivo ao aleitamento materno, segundo a II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal, publicada em 2009, pelo Ministério da Saúde, a prevalência de mães que amamentam seus filhos exclusivamente é baixa, sendo a estimativa de duração mediana do AME de 54,11 dias (1,8 meses) no conjunto das capitais brasileiras.
O que realmente influencia na baixa adesão e manutenção da amamentação? Que importância os profissionais da saúde dão de fato aos benefícios do aleitamento materno? Nossas informações dão atenção às dúvidas, incertezas e inseguranças das nutrizes? Oferecemos orientação e apoio de qualidade às mulheres que têm dificuldades relativas ao aleitamento?
O leite materno é comprovadamente o melhor, mais nutritivo e mais completo alimento para bebês, sejam estes nascidos a termo ou prematuros. Contudo, embora seja natural, vantajosa e instintiva, em muitas vezes, a amamentação, para ser bem estabelecida, precisa ser aprendida e orientada. Assim, apoio e orientação para a mulher que amamenta é indispensável, pois o ato de amamentar vai muito além de nutrir o recém-nascido. Amamentar é, em linhas gerais, alimentar e criar vínculo. O momento da amamentação é único para o binômio mãe-bebê, é o momento do contato pele a pele, da interação visual, da construção do amor. Por isso, o aleitamento materno é a base dos fundamentos e ligado a essência da nossa constituição como seres humanos.
Ana Carolina Terrazzan – Nutricionista – CRN 8330
Texto Publicado SP Informativo (Dezembro 2010)
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